sexta-feira, 26 de julho de 2013

Primeira professora com síndrome de Down defende inclusão em escola regular

Seja na aula de spinning, de musculação, nas oficinas de teatro ou no trato com as crianças no trabalho como professora, Débora Araújo Seabra de Moura, de 31 anos, prova que a inclusão é possível. Moradora de Natal (RN), ela estudou exclusivamente na rede regular de ensino, e foi a primeira pessoa com síndrome de Down a se formar no magistério, em nível médio, no Brasil, em 2005. Fez estágio na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e há nove anos trabalha como professora assistente em um colégio particular tradicional de Natal, a Escola Doméstica.

Débora considera que sua vida escolar teve mais experiências positivas. “A escola regular me fez sentir incluída com as outras crianças. Para mim não existe separação. Superei preconceitos, fiz muitas amizades e mostrei para as pessoas o que era a inclusão”, afirma.

Neste ano, a missão da jovem na Escola Doméstica é ajudar a cuidar e alfabetizar uma sala com 28 crianças de 6 a 7 anos do 1º ano do ensino fundamental. “Eu gosto das crianças. Tenho paciência, só alguns são bagunceiros e a maioria é focado. Se eu sou brava? Não, sou normal, trato eles super bem”, diz.

A professora diz que foi muito bem recebida pelos funcionários, professores e alunos da escola que de vez em quando a questionam sobre as diferenças. “Às vezes as crianças me perguntam: ‘Tia por que você fala assim?’. Aí eu respondo: ‘Minha fala é essa, cada um fala de um jeito, de forma diferente’. Aproveito e explico que tenho síndrome Down e eles entendem.”

Desinformação
Há 31 anos quando Débora nasceu pouco se sabia sobre a síndrome de Down. Na época, as crianças que têm olhos amendoados e podem ter habilidade cognitiva comprometida por conta presença do cromossomo 21 eram chamadas de maneira pejorativa de ‘mongoloides’. Receosos, os pais em sua maioria optavam em matricular os filhos nas escolas especiais. Eles achavam de maneira errônea que ao restringir o contato das crianças aos deficientes as chances de adaptação eram maiores.

Contrariando esta tendência, o médico psiquiatra José Robério, de 72 anos, e a advogada Margarida, 71, pais de Débora não imaginaram outra escola para a garota, se não a regular. Foi assim por toda a vida escolar, nem sempre fácil. Ainda na educação infantil, Débora lembra de ter sido chamada de ‘mongol’ por um garoto. Ela chorou, ficou magoada, mas encontrou na professora uma aliada que explicou à classe que ‘mongois’ eram os habitantes da Mongólia e ainda ensinou as crianças o que era a síndrome de Down.

‘Amor se sobrepõe’
A mãe relata: “Nunca cogitei uma escola especial porque Débora era uma criança comum. A escola especial era discriminatória e ela precisava de desafios. Não sabia muito bem como seria, mas estava aberta para ajudar minha filha a encarar qualquer coisa”. Engajada na causa, em 1983, Margarida fundou a Associação de Síndrome de Down, em Natal, com o objetivo de conscientizar a população e batalhar pelo fim do preconceito.

“Quando eu soube que Débora tinha Down foi como seu eu tivesse virado do avesso. A perspectiva era tenebrosa, não havia informação, mas o amor se sobrepõe a qualquer deficiência”, afirma Margarida. “Criamos a Débora desprovida de total preconceito, sempre a tratei igual ao meu filho mais velho [Frederico, advogado, de 33 anos], o assunto nunca foi tabu. Ela é uma moça como qualquer outra, sonha, deseja, tem planos, é descolada e bem aceita em qualquer ambiente.”

Por conta de sua experiência com professora, Débora já foi convidada para palestrar em várias partes do país e até fora dele, como Argentina e Portugal. Sempre que pode participa de iniciativas para ajudar a combater o preconceito. “Ainda existe e acho que as palestras ajudam a diminui-lo. Muitos professores foram assistir minhas palestras e fui aplaudida em pé pela plateia.”

No dia 21 de março quando se comemora o Dia Internacional da Pessoa com Síndrome de Down, Débora vai apresentar uma peça de teatral junto com outros professores da Escola Doméstica de Natal para explicar o que é a síndrome aos alunos. Ela fez aulas de teatro por três anos. Outro plano é lançar um livro de pequenas fábulas, todas de cunho moral que abordam a inclusão

Professora Especial

Noelia tem síndrome de Down e é professora do jardim de infância na Argentina

A jovem argentina Noelia Garella tem 26 anos e trabalha como professora em um jardim de infância em Córdoba, na Argentina. A professora iniciou a carreira após se formar por um instituto superior e, a partir de uma adequação curricular, começou a trabalhar no Jardim Maternal Municipal Capullitos, em sua cidade.

Noelia é responsável pela biblioteca do jardim maternal e também pela promoção da leitura entre as crianças de 3 e 4 anos que estudam na escola. “Estou muito contente com meu trabalho. As crianças me tratam muito bem’’ diz a professora.

O presidente da Associação Argentina de Síndrome de Down (Asdra), Raul Quereilhac, comemorou que a jovem tenha se inserido no mercado de trabalho, mas ressaltou que gostaria que essas histórias deixassem de ser notícia. “Todos os jovens deveriam ter a possibilidade de trabalhar. Isso não deveria ser uma novidade” disse.

A irmã de Noelia, Romina, disse sentir-se muito emocionada e orgulhosa de sua família. “Podemos ver os resultados de um esforço que valeu a pena, porque nunca perdemos a esperança de conseguir alcançar esse resultado”.

Noelia trabalha pela manhã na Biblioteca Infantil da escola e é sua responsabilidade colaborar com tudo que é referente à literatura. Ela é encarregada de ler histórias para as crianças e de toda a organização da biblioteca.